
Morando no Centro do Rio e estudando no Méier, isto estava com seus dias contados, no longínquo 1992 do impeachment do Collor: em 1993, minha mãe me queria estudando perto de casa. Fomos primeiramente em um colégio no Catete, onde entrava-se às oito da manhã e saía-se às onze, eu mesmo não quis estudar lá; o que se aprende, em uma carga horária tão parca? Minha Mãe foi a um certo colégio alemão, que exigia uma prova para aceitar o aluno. Minha Mãe questionou, pois se tratava de uma escola particular. O senhor da secretaria nos disse “bem, aqui é um colégio alemão”, ao que minha Mãe – quem a conheceu, sabe bem deste estilo – sem levantar um decibel da voz ou esboçar surpresa respondeu: “bem, o dinheiro que uso para pagar é moeda nacional”. O colégio alemão babou…
Um gigantesco colégio católico se descortinava em minha frente – mais uma vez, o convento! – quando, uma vizinha nossa disse: “Porque você não vai à MABE? É um bom colégio!”. Ah, mencionou alguma coisa sobre o Jerry Adriani também…
Era uma sexta-feira muito chuvosa, às vésperas do Carnaval daquele ano. Devia ser perto das 20 horas, fomos até a MABE. Para surpresa nossa, quem estava na secretaria era a dona Zezé – para o leitor querido, sobretudo se for alguém da grande família Mabeana, não há nada demais. Acontece que a dona Zezé de vocês era a minha dona Maria José, a quem eu conhecia desde um sempre. É que eu estudei até a Quarta Série, em um colégio que ficava dentro de um convento, com a filha mais velha dela! Devo admitir que ver a dona Maria José já me deixava “em casa”…
“Está tudo escuro, e com tanta chuva, a pista de Atletismo deve estar alagada”, disse a dona Maria José, mas eu queria ver o colégio, ela não negou isto ao “coleguinha da Paulinha”. Vi mais do que se poderia imaginar: aquele prédio centenário, todas as árvores da cidade estavam lá dentro! Quantos troféus, aquelas inúmeras fotografias do Teatro e do Ballet… Eu queria a MABE, minha Mãe consentiu.

Absolutamente tudo na MABE era diferente, das coisas que eu vivera em outras escolas. Posso dizer isto, porque o “Vetusto Educandário” – é, eu lia as circulares, cheguei a colecioná-las! – foi o quarto colégio no qual estudei. No primeiro dia de aula fui apresentado a um cartão de entrada, com o qual eu deveria diariamente “bater o ponto”, uma novidade que também foi apresentada às minhas filhas, em seus dias de MABE, pela mesma pessoa:

O SR. FERREIRA! – Aqui, junto do Sergio.

Meu destino começava a mostrar para mim tudo o que seria todo o resto da minha vida: minha primeira sala na MABE era a de n° 13, em frente à Mangueira – o professor Antonio Sá disse certa vez: “eu cheguei (à MABE) em 1966, e ela já estava ali – em cujo bloco de pedra conversas, amizades, confidências, lágrimas, paixões, segredos, sofrimentos, brincadeiras, um Mundo inteiro foi idealizado, pelo simples fato de se sentar ali. Aquela pedra tinha o poder divino de erigir o futuro, de quem se sentasse ali, para pensar nisto…
Entrei naquela sala, com minha famosa pasta preta, acreditem, meus futuros coleguinhas, aspirantes a amigos de uma vida inteira, pensaram que eu era um professor… Bem, o verdadeiro professor não demorou um único instante a chegar, e como disse, o destino estava a me mostrar absolutamente tudo: aquele certo professor, constantemente associado a própria Face do Mal, por inúmeras gerações de ex-alunos, seria o responsável por minha Mãe, em 1995, transferir-me para o derradeiro colégio, da minha vida de aluno.

Em um mês, eu já lidava com todos os meus colegas de classe. A primeira pessoa com quem conversei foi Cristina Rodrigues, o segundo Marcelo José. Nesta altura, o Alan já havia proibido que me sacaneassem, embora o Andrés, sem sucesso, o tentara. Andrés, que atendia na época a alcunha de ”Anasta”, também ficara famoso por correr a sala inteira, e lançar todo o seu monstruosos peso sobre uma rachadura no fundo da sala. A rachadura sobreviveu a mais um insucesso de Andrés. Clóvis já havia me aconselhado “a me revoltar”, Petty ria da minha cara, eu ria do Wagner, do Evandro e do Alexander, vugo “Cachorro”. Convivendo com Rafael Bigel, Zé Inácio e Juan, quando me dei conta, ria da maneira como gargalho até hoje. Encarnavam no Franklin, tendo o Luis Carlos Gomes ao lado, sempre quieto, provavelmente acreditando que seria o próximo a ser encarnado. Rubens ficava na periferia, no melhor estilo “come calado” – se tronaria o meu maior amigo! – de um lado, Marcus Coringa e seu bordão ‘Bonito!”, Erislane – outro dia, no noticiário, apareceu algo que aconteceu em Formosa, Goiás, como eu ri! – Tatiane e seu bordão “rala peito”, mais a “Cacau” Claudinha e a Cristina Rodrigues.

Aí, vinham Pia e Roberta inseparáveis, Cristina Dias – nossa adorável Nina, um encanto de pessoa, ao lado da Ludmila – um pequeno segredo aqui: meus colegas de classe cansaram de ver os embates entre aquele professor que era a Face do Mal e eu, o que eu jamais exitei dentro do que a razão me permitia. Entretanto, a única pessoa com quem eu não queria me indispor, de maneira alguma, era com “a marrenta” da Ludy, porque certamente se tivéssemos brigado alguma vez, hoje não existiria Carlos Pimenta para escrever estas palavras… A mais forte personalidade que eu já vi, em toda a minha vida! – anos depois, eu teria a honra de ver as duas, na primeira fila, da minha primeira produção teatral…

Tatiana Vilella colada com Wagner e Aretusa, a Tatiana Mele, um docinho de pessoa, sentava-se do meu lado na sala. Outro docinho de pessoa era a Sandra Catarina. No miolo da sala estavam Marcelle, Elisângela e o Fred – sim, Frederico Carlos, hoje marido dela. Ele nunca estudou na MABE, mas ela falava tanto dele, que ele já era figura presente! -a Vivian e a Simone, as quatro falavam mais do que a sala inteira reunida. Na ponta, em frente ao professor, Tatiana Porto, a Marcia, a Marilene, a Rosiene, a Lucielba, a Claudia Gladys, a Camila e o polêmico Paulinho. Até hoje mantenho minha promessa à professora e sambista Ana Reis, a respeito de maiores considerações sobre ele, favor não insistam!
Aquela primeira semana, conhecemos a professora Rosária de português, a Cecília de biologia I e o Vitor de biologia II que, sempre que pode, falava sobre AIDS a quem quisesse ouvir. O Mestre José Antonio de história, que vivia a evocar o rei Artur, meu contra parente Renato Pimenta de física, Maricleide e seus experimentos in loco (lembram-se do encontro da lamparina – do Rafael Bigel parece – e do Andrés?) E Maria Angélica de Quimica I e II, o Márcio de Inglês, a charmosa Rosa Maria de Literatura, a Marcia de Moral e Cívica que, cá entre nós, não cheirava e nem fedia, além da professora Cristina de Redação, que carinhosamente fora apelidada de John Lennon..

E, inesquecivelmente, aquele professor de geografia, a quem apelidaram de “Beto Barbosa do adocica”, com um camisão estampadíssimo, aberto uns três botões, um monte de mapas de todos os países, de todos os planetas do sistema Solar debaixo do braço, avisando que no domingo haveria show do Milton Nascimento no Arpoador, e que ele estaria lá: o sr. Adilson Sacramento!
Então, comecei a escrever meu Jornal – que o colégio inteira lia, inclusive o prof. Roberto Fontes! – contei algumas piadas, e satirizando o Marcelo José, que ficava gritando “Oe” a torto e a direita, eu imitei o Silvio Santos dizendo ‘Oe”.
Minha vida não seria mais a mesma!
De início, a Tatiana Mele me pedia, de cinco em cinco minutos, para imitar o Silvio. Depois, a maioria dos professores davam os 15 minutos do fim de cada aula apenas para as minhas imitações – é claro que a minha turma adorava: quem não gosta de menos aula?
Em abril, o manicômio fechou suas portas, com o retorno da Raquel Lenti a MABE, nos tornamos, de cara, grandes amigos. Sob a chancela do Marcelo José e do Alan cheguei à Festa Junina, sob as honras do Evandro fui apresentado ao Sr. Fernando Fontes, que viu cada uma das minhas imitações. Riu de absolutamente nada. Disse apenas uma coisa: “Já está escrito no Teatro de Amadores da MABE?”

Assim foi o início do resto da toda a minha vida. A MABE está viva, porque eu estou vivo! Uma lembrança muito viva, daquele primeiro mês na MABE foi o dia 31 de março, aniversário do Colégio. Foi a primeira vez que vi a grandeza da MABE – seus alunos! – em um alvoroço, que se chamava “Gincana Mabeana”. Eu nunca participei dela, mas fui assistir. Aliás, todos nós nos fazíamos presente. O destaque, na minha opinião, sempre foi a Nina…

ESTA DATA É NOSSA, POR ISSO, EU A CELEBRO! PARABÉNS À TODOS!
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